17 de fevereiro de 2024

Na Ronda

Douglas Germano – 17.02.2024












Na ronda

assopro na brasa,

marreta no berro,

a faca no cio


Na ronda

estalo no mato,

pancada na terra,

enxada no fio


Na ronda

é trilho de aço,

é trilha de guerra,

faísca e pavio


Na ronda

é forra no ato

acerto do trato

Com os ferros de Ogum


Ogum Yê! Patacuri Ogum Mô Yè!!!

Akoró

Mejé

Oniré


Ogum Yê! Patacuri Ogum Mô Yè!!!

Amené

Ogunjá

Alagbedé


A cabeça coroada, sentinela à mão a espada, Ogum

A cabeça coroada que nos guia pela estrada, Ogum

14 de abril de 2023

Maria-meu-bem

Douglas Germano / Roberto Didio - 10.04.2023


Maria-meu-bem, Faz-xodó

Ela é Fogosa também

Maria-meu-bem

Que apelido a pinga tem?

Cura-tudo, borbulhante, limpa-goela, teimosinha

Roxo-forte, manduraba, três-martelos, danadinha.

Bataclã, desmancha-samba, santa-branca, tinguaciba

Chica-boa, pau-no-burro, forra-peito, pindaíba

Januária, pé-de-briga, birinite, bagaceira

Preciosa, dona-branca, lanterneta, dormideira

Aguarrás, assina-ponto, perigosa, senhorinha

Talagada, lamparina, limpa-olho, caianinha

Amorosa, pau-selado, catiguenta e abrideira

Água-bruta, baronesa, já-começa, pau-pereira

Cascavel, desmanchadeira, engenhoca, guarupada

Meu-consolo, canha, óleo, água-benta, concentrada

Venenosa, linha-branca, caxaranga, danadinha

Café-branco, cumulaia, pringoméia, cipininha

Cobertor-de-pobre, uca, supupara, calibrina

Ariranha, lamparina, mamadeira, canjebrina


Monalisa, Lisa, Mona

Agua-benta e Vai além

Maria-meu-bem

Que apelido a pinga tem?


Bate fundo em Madureira

Dona Branca de Xerém

Maria-meu-bem

Que apelido a pinga tem?


Incha pé, Mamãe-sacode

Tetezinho do neném

Maria-meu-bem

Que apelido a pinga tem?


Comecei em Brás de Pina

Fui parar em Santarém

Maria-meu-bem

Que apelido a pinga tem?

10 de abril de 2023

Tem cada coisa...

Douglas Germano / Roberto Didio

 

Tem coisa que dá em todo lugar

Tem coisa que é muito difícil de achar

Tem coisa que dá em todo lugar

Tem coisa que é muito difícil de achar

 

Gente canalha e picareta

É coisa que dá em todo lugar

Aplique, trapaça, caô e mutreta

É coisa que dá em todo lugar

Mas procedimento leal e lisura

Palavra sem curva, noção e postura

Amigo de fato que dá pra contar

É coisa que é muito difícil de achar

 

Bola no pé do Zé Perneta

É coisa que dá em todo lugar

Aplique, trapaça, caô e mutreta

É coisa que dá em todo lugar

Mas chute bonito, golaço perfeito

Jogada de craque, chamando no peito

Boleiro de fato que sabe lançar

É coisa que é muito difícil de achar

 

Chope ruim na caldereta

É coisa que dá em todo lugar

Aplique, trapaça, caô e mutreta

É coisa que dá em todo lugar

Mas chope tirado com todo carinho

No copo dourado, pressão, colarinho

Aquele schinit que faz salivar

É coisa que é muito difícil de achar

 

Taco espirrado de veneta

É coisa que dá em todo lugar

Aplique, trapaça, caô e mutreta

É coisa que dá em todo lugar

Sinuca de bico, tabela no fundo

Que deixa bolado qualquer vagabundo

Aquela matada que para o bilhar!

É coisa que é muito difícil de achar

 

 


 

Verso sem força na caneta

É coisa que dá em todo lugar

Aplique, trapaça, caô e mutreta

É coisa que dá em todo lugar

Real partideiro que rima na hora

Que pensa ligeiro, que nunca decora

Malandro no samba que sabe versar

É coisa que é muito difícil de achar

 

Métrica para o improviso:

Loira de sobrancelha preta

É coisa que dá em todo lugar

Conta de bar na caderneta

É coisa que é muito difícil de achar

 

Chifre enfeitando a silhueta

É coisa que dá em todo lugar

Corner direto na gaveta

É coisa que é muito difícil de achar

Pobre jogado na sarjeta

É coisa que dá em todo lugar

Seca milhar na borboleta

É coisa que é muito difícil de achar

 

Canalhocrata na vinheta

É coisa que dá em todo lugar

Sax tenor que nem Proveta

É coisa que é muito difícil de achar

Sagrado Humano

Douglas Germano - 10.04.23

Para Roberta Oliveira  


O meu sagrado pisou chão

O meu sagrado trabalhou

O meu sagrado construiu, forjou, cerziu, sangrou a mão 

O meu sagrado teve cria

o meu sagrado foi de fé

Ao meu sagrado eu ergui esse Peji, a minha Sé


Malandro, boleiro, estiva , 171

Do bicho, do torno, do trem, da viração,

da obra, do cimento, do tormento, do rojão

O meu sagrado é humano, é profano...

é meu irmão!


Carola, biscate, boleira, vende avon

Rendeira, enfermeira, chofer de caminhão

Cozinha, benze, guia, conduz o pavilhão

O meu sagrado é humano, é profano... 

é minha irmã!

16 de outubro de 2022

Desbancando Gordon Banks

(Douglas Germano / Luiz Antônio Simas - 08.09/2022) 


Quando por três Tostão passa ciscando

Metendo caneta em Bobby Moore

A velha Albion cai no gramado do Jalisco

E a flecha, como um risco, entorta Excalibur.



Cruzada, a redonda vê o Rei

Soberano como o Manicongo

Que preciso como arqueiro zen

Sente o Furacão rente ao ombro



E a bola, rolada com brandura

Só espera a bomba do Miúra

Pra porrada que desbanque Gordon Banks



E é gol do sete marupiara!



Socam o ar os canários amarelos

Feito as ibejadas nos terreiros

No meio-dia de Guadalajara.



7 de maio de 2022

Jereco e Capucheta









Douglas Germano / Luiz Antonio Simas - 07.05.22


Cafifa, pandorga, pepeta

Piposa, cangula, curica

Morcego, banda de asa, duas varetas, suru.

Jereco e catreco fuleiras

Merrecas como a capucheta

De papel de pão.

Na Ilha da Madeira é joeira.

Pro alemão, sem cerol, é dragão.

Exu Mirim solta pipa na cachoeira

(Voou tá na mão seu moleque

Cortou, tá na mão.)

Avisa que vem o meganha

Debica como o menino

Batendo bronha:

A arte de beijar o céu

Com os pés no chão.

7 de abril de 2022

Ode do pode num pode

 (Fábio Peron / Douglas Germano)


Aquilo pode

issaqui diz que num pode

acho até que, podê, pode,

mas é bom num arriscá, não

quando num pode, pode ser

que dê é bode

nem sei se bode pode

bodejar no baião


Um pode e num pode

de rachar o quengo

num tamo podendo nem palavrear

e quem diz que num pode

tudo tá podeno

e a gente só veno

ele se arrumá


Mas issaí num infrói

e também num contribói

Nós semo tudo da lida

trabáia que dói

é preto é branco é mané

de fé, pagão ou muié

Tudo explorado

que os homi

mói como quiser.


Mas issaí num infrói

e também num contribói

Nós semo tudo da lida

trabáia que dói

Larga desse cunversê

e manda o povo juntá

os homi vão é corrê

se a crasse se infezar.

6 de abril de 2022

A que tenha partido

(Alfredo Del-Penho / Douglas Germano)


Não vou embora

pra canto nenhum

viu, ó Mana?

Quem vai agora

em hora tardia,

há de voltar


Me entregar, não vou!

E quem fugiu verá

a minha cara, de cara,

aqui, quando chegar


Mana, eu nem tenho tempo pra rancor

Minha memória apenas gravou todo esse horror

Sei daquele que saiu e de quem já nos deixou, mana

Larga dessa matula, menina

Já disse que não vou.

4 de abril de 2022

Zelite

 (Douglas Germano / Roberto Didio) 04.04.22


Faço fé nesse povo que faz
Bicicleta certeira no gol
No trompete, no sax, no jazz
No poema deitado no flow

Um direto no queixo, caiu
Uma cesta de três pra fechar
A ginasta no pódio subiu
Mas ralou no terrão pra chegar

A Zelite não gosta de forró
A Zelite no samba, que caô
Ó comadre Zelite, tenha dó


Paraíba, meu bem
Zelador, popstar
Mas surfista de trem
Faz sertão virar mar
Não carece sofrer
Pra se vangloriar
E você?, quero ver!
Não consegue criar
Nada sabe fazer
Você sempre foi de atrasar
Capoeira é que sabe girar, jurar, vingar, gingar, jogar


Faço fé nesse povo que faz
Faz o fole sorrir no baião
Dominguinhos, maestro sagaz
Era filho de mestre Chicão

O moleque no pulo venceu
Na corrida do ouro saltou
Mais um samba bonito nasceu
Um João que João já cantou


A Zelite não gosta de forró
A Zelite no samba, que caô
Ó comadre Zelite, tenha dó


Faço fé nesse povo que traz
Tudo isso no seu matulão
E você tá querendo cartaz
Mas Zelite não faz nada não

12 de janeiro de 2022

Vermelhos faróis

 (Pedrinho Moreira/Douglas Germano – 11.01.22)

Criméia, Chatuba, Urubú

Piolho, Pedreira, Caboré, Jaú

Zoião, Carumbé, Buté, Tachã... (e Mangue)

Morrão, Milharal, Vietnã


Sucupira, Nardini,Moinho,

Barroca, Fundão, Paquetá,

Coruja, Niquinha, São Remo, Boca da Onça, Ingá

É a laje que sobe, é tijolo baiano, é a fé que arranha o céu,

os vermelhos faróis de nossa Babel


Engenho, Imbé, Cheba, Capão

Sapé, Caixa d´água, Morro Azul, Japão

Cai cai, Valo Velho, Aracati… (Aurora)

Sinhá, Cingapura e Guarani

27 de julho de 2021

Um chorinho pra Wandeca

João Poleto / Douglas Germano  (15.07.21)


Eu sou brasileira,

do swing na maneira,

do teleco teco teco,

do balaco baco também

Sou do pinta e borda

pois o que não mata engorda

sou caçamba, sou a corda

estou pro que der é vier

Saiba que não sou de brincadeira

esse gingado nas cadeiras

muita história tem pra contar

Pra desacatar, saracotear

num riso chorado que eu vou te cantar


Minha voz se deixa levar… no bordão

E enlaço o contratempo com um bandolim

E um breque de pandeiro vem levantar-me do chão


E eu vou flutuando, sincopando, me envolvendo

um choro sem lamento, pouco a pouco me aquecendo

e faço desse abraço um compasso que não vai ter fim nem lugar


E aviso pra não te iludir:

Se você pensa aí que eu vou me despedir, se aquieta!

Acabei foi de começar.

Na Ronda

Douglas Germano – 17.02.2024 Na ronda assopro na brasa, marreta no berro, a faca no cio Na ronda estalo no mato, pancada na terra...